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30/03/2012 - René Simões só aceitou a proposta do São Paulo para
ser o novo diretor-técnico do clube com uma ressalva: não adiar
uma viagem que já estava marcada para conhecer a estrutura do
Barcelona. Visita feita, ele recebeu a reportagem em Cotia, seu
novo quarte-general, para mostrar como sua avidez por
conhecimento pode revolucionar o futebol do São Paulo.
Erguendo a bandeira do futebol bonito, dos dribles e do
espetáculo, ele contou ao LANCENET!, em entrevista exclusiva,
quais são as suas principais missões no clube e não mediu as
palavras para mostrar que sabe a importância do cargo no São
Paulo. Em determinado momento, sintetizou:
- O São Paulo é o São Paulo, porra. É campeão mundial e tem que
ganhar tudo sempre - bradou.
Entenda qual o caminho de René para buscar um 'novo Messi' em
Cotia. Confira: |
BATE-BOLA
LANCENET!: Qual a sua principal missão como diretor-técnico do
São Paulo?
René Simões:
Conquistar o torcedor com o futebol que nós (brasileiros) sempre
jogamos. Dei muitos cursos no exterior e sempre perguntavam qual
a filosofia de jogo brasileira. Explico a filosofia de jogo
brasileira fazendo analogia com a tourada. O objetivo da tourada
é matar o touro, mas o toureiro não dá tiro para matar com um
revólver. Tem que ter um estilo para dominar o touro e matá-lo.
O futebol brasileiro é assim: lógico que queremos gol, mas
gostamos é de fazer com estilo. O bonito é a trivela, a
chaleira, o chapéu e a bicicleta. Isso que eu quero no São
Paulo.
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L!: Como fazer com que o profissional e a base tenham o
mesmo estilo de jogo?
RS:
O que vou fazer é gastar um tempo grande aqui (no CFA de
Cotia) e estabelecer esta filosofia. O objetivo é, em
2015, termos oito jogadores entre os 11 titulares. Quando
tivermos esse grande número de jogadores entre os 11,
todos vindos de Cotia, a filosofia já vai estar
encrustrada no time, no entrosamento e no estilo de jogo.
Não preciso ir lá conversar com o Leão agora para isso.
Vai ser um processo natural.
L!: Como lidar com o velho paradigma do futebol de base:
formar talentos ou vencer competições?
RS:
Um time campeão do mundo não pode competir só por competir
nunca. Temos que fazer uma formação de tão boa qualidade
que nos faça ganhar as competições na base. Não formaremos
um bom profissional sem gana, adrenalina e pressão. Os
nerds não tem pressão, só conhecimento e informação. Sem
luta, pressão e prática, o conhecimento não se torna
sabedoria. Sem isso, o cara treme. O São Paulo é o São
Paulo porra! Esse clube não pode entrar só para competir
nunca.
L!: Qual o tamanho de sua autonomia no novo cargo? Chega a
ponto de demitir profissionais?
RS:
A questão de ter poder ou não, é muito relativa. Isso vai
de acordo com o momento e a necessidade. Mas é claro que
futebol não é só campo e bola. Os problemas de caráter
administrativo serão resolvidos com um trabalho pensado.
AS MISSÕES DE RENÉ NO TRICOLOR
Tempo no cargo
René Simões tem planos pretensiosos em relação ao tempo
que ocupará no cargo de diretor-técnico do São Paulo. Ele
almeja ficar no comando da integração entre base e
profissional do clube por, no mínimo, 20 anos. |
Messi no São
Paulo? Para, René Simões a missão não é impossível (Foto:
Montagem) |
Integração de CTs
Uma das principais metas de René é conseguir fazer com que a
elogiada estrutura do CFA de Cotia esteja mais integrada com o
CT da Barra Funda.
Revelações no principal
Simões também traçou uma meta audaciosa para o número de jovens
revelados no clube na equipe principal. Ele estima que, em 2015,
o São Paulo terá oito titulares do time principal formados na
base.
Jovens na Olimpíada-16
Além de estimar um número de jogadores no time principal, o novo
“chefe” são-paulino fez outra previsão. Ele acredita que nos
Jogos Olímpicos de 2016 o São Paulo terá quatro atletas na
Seleção Brasileira.
A VISITA AO BARÇA
O
LANCENET!,
pediu que René Simões elegesse os três pontos que mais chamaram
a atenção no clube catalão.
1)
“Quando cheguei ao clube, uma das primeiras coisas que li foi a
missão deles no futebol. Me impressionou bastante, porque estava
escrito assim: ‘Fazer nossos fãs felizes jogando um futebol
bonito’. Isso está colocado lá, como a meta deles. É muito
legal!”
2)
“Em uma reunião que tive com um dos chefes da metodologia do
clube, ouvi uma coisa que chamou muito a atenção: ‘Todos nossos
times são orientados a construir e não destruir.’”
3)
“Assisti a jogos de todas as categorias e me impressionei. Todas
eram iguais. Pareciam Xavi e Iniesta em miniatura.”
COM A PALAVRA
Carlos Rexach, ex-jogador e ex-técnico do Barcelona que
‘descobriu’ Messi, em entrevista exclusiva ao LANCE!
No Barcelona, busca-se o garoto que jogue futebol bonito e
alegre. Essa mudança radical na base começou em 1988, e logo
saíram grandes jogadores. Guardiola foi um dos primeiros, um
jogador excepcional, que tocava a bola muito rapidamente, mas
não era daqueles de sair driblando dois jogadores. Xavi é assim
também, de muito toque de bola. Este é o futebol do Barça.
Em princípio, houve críticas, mas aqui se estabeleceu que
deve-se buscar o garoto que jogue futebol. Antes, você via nos
treinos um saco de bolas no meio do campo e todos correndo
desordenados. No fim, tirava-se meia hora para jogar. Agora não:
damos a bola para o jogador, para que ele treine sozinho. Eles
já sabem como fazê-lo porque treinam assim desde sempre.
Torna-se algo bastante natural.
COMPARAÇÃO
O treinador faz uma comparação
entre o Barcelona e São Paulo. Diz que os dois times têm
estádios de primeiro mundo (“e o Morumbi vai passar por umas
mudanças que vão torná-lo melhor”), mantém centros de
treinamentos semelhantes para o futebol profissional e garante
que o São Paulo tem melhor estrutura para a base. “Aqui é muito
superior e trabalha todo exclusivo para o futebol. Lá, a
estrutura serve a outras modalidades como o vôlei e o basquete”,
disse.
“Mas a diferença está no modo de
trabalhar. No Barcelona, há uma rigidez na preparação dos
garotos, uma visão de quantos atletas trabalhar e um modo de
treiná-los que podem ser adotados aqui”, disse.
A preferência pelo futebol bem
jogado é essencial para a meta de Renê até 2015. “O atleta alto
vai ter chance se mostrar habilidade e qualidade ao jogar. Mas o
importante é ter jogadores com capacidade de jogarem
ofensivamente, com posse de bola e jogo bonito”, falou o
treinador que participa no Rio de Janeiro do Seminário de Gestão
Esportiva, organizado pela Fifa e pela Fundação Getúlio Vargas.
Ele cita os astros da atual
equipe espanhola para lembrar que, em futrbol, tamanho já não
mais o único documento: “Veja o Xavi, o Iniesta e o Messi. Eles
não jogariam em qualquer equipe mesmo sendo baixos, tendo algo
em torno de um metro e setenta?”.
RENÉ SIMÕES COMO DIRETOR-TÉCNICO
1994 - 1998 Jamaica
EXPERIÊNCIA NÃO É NOVIDADE -
René Simões também ocupou o cargo de diretor-técnico da Seleção
da Jamaica, na década de 90. Como principal feito, levou os
jamaicanos à Copa do Mundo de 1998, na França, e ainda acumulou
boas histórias. Quando chegou, procurou seus jogadores e
descobriu que muitos trabalhavam em hotéis (Warren Barrett
carregava malas, Theodore Whitmore era barman). Depois arranjou
financiamento e pediu ajuda à Federação Jamaicana, criando o
projeto “Adote um Jogador”, que consistia em uma empresa
patrocinar um jogador específico, o que atraiu grandes
corporações e teve muito sucesso.
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